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Entrevista ao Portal Nossa Matilha

1. Quais são os principais desafios para os médicos veterinários que buscam se especializar na área de dermatologia veterinária?


Hoje com a evolução da Medicina Veterinária, vivenciamos a situação já comum na Medicina Humana, que é a necessidade de se aprimorar e capacitar, buscando sair do aspecto generalista.

Acredito que os desafios são muitos e podem ser encontrados em outras áreas da medicina veterinária. Posso destacar as dificuldades que passei na época de graduação em busca de estágios, congressos e cursos de aprimoramento. Além disso, o custo financeiro empregado em uma pós-graduação, como também em livros, equipamentos e treinamentos. Porém, acredito que o grande desafio de qualquer área da medicina é estar sempre atualizado, sendo hoje sem dúvida, minha maior dificuldade. A cada dia o nosso “tempo” está mais escasso por conta dos inúmeros afazeres, tanto pessoais como profissionais. Dessa forma, se tornar produtivo, sem perder a qualidade do seu atendimento profissional, com certeza é o maior desafio em qualquer área da medicina veterinária.


2. Quais são os agravos mais frequentes na área de dermatologia veterinária atualmente? Há tratamento adequado para todos esses agravos?


Sem dúvida os agravos mais comuns e desafiadores na área dermatológica são as alergopatias ou as dermatopatias alérgicas. Elas são divididas em três doenças, que representam também as causas das alergias nos pequenos animais. De maneira geral, a Dermatite Alérgica à Picadas de Ectoparasitas (DAPE) é a mais comum, seguida da Dermatite Atópica e da Hipersensibilidade Alimentar.

Todas as dermatopatias alérgicas são doenças crônicas, não apresentando uma cura definitiva, mas podem ser controladas.

O tratamento das alergopatias consiste na diminuição dos sinais clínicos da inflamação e no controle das infecções secundárias. Além disso, eliminar ou minimizar o contato com o agente causador é um fator de sucesso no controle da doença alérgica, principalmente na DAPE.

Hoje, a evolução no controle das doenças alérgicas é mais evidenciada na Dermatite Atópica Canina, onde os testes alérgicos são capazes de identificar e selecionar os alérgenos ambientais candidatos para a realização de uma imunoterapia alérgeno-específica (IAE).

Nos cães atópicos, o único tratamento capaz de modificar o curso natural da doença é a IAE, demonstrando ainda, uma redução da necessidade do uso de medicações para o controle dos sinais clínicos, segurança contra reações anafiláticas e indução de uma melhora clínica permanente mesmo após a interrupção do tratamento.

O uso de medicações orais e tópicas (antibióticos, antifúngicos, anti-histamínicos, xampus, loções), é responsável por reduzir, controlar e prevenir as crises alérgicas.

Um adequado plano diagnóstico e terapêutico é fundamental aos pacientes alérgicos. Quanto mais eficiente for a identificação e o controle das alergias, menos problemas teremos com as crises alérgicas.



3. A dermatologia veterinária evoluiu nos últimos anos? Quais são os principais desafios dessa especialidade?


Sem dúvida, observamos uma evolução nos últimos anos na dermatologia veterinária. Acredito que o grande desafio é continuar evoluindo, traçando novas linhas de pesquisas científicas e novos métodos diagnósticos, principalmente para as doenças de difícil resposta terapêutica ou conclusão diagnóstica.

Podemos destacar uma evolução para entender os complexos fatores imunológicos de inúmeras doenças infecciosas, alérgicas e autoimunes. Além da realização de estudos científicos, destacando técnicas moleculares para melhorar o diagnóstico laboratorial de várias doenças com envolvimento cutâneo, como por exemplo, a Leishmaniose.



4. Você nota que os proprietários de animais de estimação estão observando mais os seus animais e isso contribui para o desenvolvimento e melhorias nas especialidades veterinárias?


Com certeza observamos uma mudança comportamental da nossa sociedade com seus animais de estimação. Os animais de estimação estão, assumindo um papel diferenciado nas residências e famílias, vivendo antigamente somente no quintal das casas e morrendo de velhice. Hoje, eles são membros da nossa família, participando de suas atividades diárias e sofrem de doenças crônicas, como diabetes, doenças renais, cardíacas e etc.

Não tenho dúvida que esta humanização dos animais domésticos contribui para o desenvolvimento da medicina veterinária, inclusive com o surgimento das especializações. Ademais, nossos clientes estão cada vez mais exigentes e informados, em busca de melhorias na qualidade de vida de seus amados animais de estimação.



5. Quais são as principais coisas que devem ser analisadas em uma consulta dermatológica? E quais são os principais exames que auxiliam do diagnóstico do problema?


Acredito que qualquer consulta dermatológica se divide em quatro etapas: a primeira é a coleta do histórico e anamnese dermatológica; a segunda é a interpretação dos achados clínicos; a terceira é a realização de exames complementares e a última etapa é a criação de um plano diagnóstico-terapêutico para seu paciente.

Os agravos dermatológicos podem ter uma clínica semelhante ou se apresentar de maneiras variadas, sendo um grande desafio ao dermatólogo veterinário chegar ao diagnóstico correto. Por isso, é fundamental recorrer a exames complementares para ordenar suas hipóteses diagnósticas. Os exames dermatológicos complementares mais comuns são: raspados cutâneos, tricogramas, citologias cutâneas e otológicas, culturas fúngicas e bacterianas, exames histopatológicos e os testes alérgicos.


6. Você nota que os problemas dermatológicos nos animais podem estar relacionados em alguns casos com o fator emocional dos mesmos? Cães estressados, ansiosos ou depressivos têm maiores chances de apresentarem doenças cutâneas?


Primeiramente, temos que diferenciar o que é uma dermatose psicogênica, dentro do universo das dermatopatias. As dermatoses psicogênicas (distúrbios psicogênicos primários) são doenças com envolvimento cutâneo, mas que primariamente tem uma causa comportamental. Um exemplo clássico é a dermatite acral por lambedura, onde o paciente apresenta uma necessidade de se lamber, geralmente a porção cranial do membro, sendo este resultado um ciclo de lambe-coça. A causa comportamental mais comum envolvida nesta doença é a solidão e outros fatores emocionais particulares, como um comportamento obsessivo-compulsivo, presente neste paciente.

Em segundo plano, temos que diferenciar os fatores emocionais de um animal que podem agravar uma dermatopatia já existente. Hoje, sabemos que inúmeros fatores emocionais, como o estresse, ansiedade e depressão, podem modular significativamente as respostas imunes e até mesmo o prurido.

Deste modo, podemos atender um paciente com problemas comportamentais primários, criando uma doença cutânea ou um paciente que piora sua condição dermatológica pré–existente por conta de problemas emocionais.

Hoje vejo um aumento crescente dos dois tipos de pacientes em minha conduta clínica, sendo um fator preocupante. É importante lembrar, que o diagnóstico de uma dermatose psicogênica é difícil e complexo, sendo por exclusão e geralmente, não pode ser bem comprovado.


7. A incidência de problemas dermatológicos é maior, menor ou igual, comparando cães e gatos?


Nos cães e gatos, problemas de pele como queixa principal ou como problemas concomitantes, podem variar de 20 a 75% de todos os atendimentos de clínica veterinária. Entretanto, poucos estudos descrevem e comparam os agravos dermatológicos entre cães e gatos. A maioria desses estudos descreve uma proporção discretamente mais elevada para as dermatoses caninas em comparação às dermatoses felinas. Na minha rotina clínica, observo maiores problemas dermatológicos em cães, porém acredito que estes valores são superestimados, já que nas regiões que atendo a população canina é mais elevada. Atualmente, os estudos discutem que estes valores de incidência tendem para uma igualdade entre as espécies.


8. Os banhos realizados por pessoas sem experiência e carentes de procedimentos como uma adequada secagem dos pelos, contribui para o surgimento de problemas dermatológicos em animais de estimação?


Banhos inadequados podem causar danos na pelagem e pele dos nossos animais de estimação. Recomendo sempre procurar estabelecimentos veterinários especializados, com profissionais devidamente capacitados, além de equipamentos técnicos adequados e uma clientela satisfeita.

Não acho ruim para a pele dos animais, se os proprietários preferem optar por banhos em casa. Como já descrevi para os pet shop, acho importante os donos se capacitarem para promover um momento de banho divertido e funcional para seu animal.


9. Quais são as principais dicas para instruir os proprietários que optam por dar banhos em casa nos seus animais?


Vou descrever algumas dicas referentes a dúvidas frequentes, principalmente aquelas que podem causar alguns danos dermatológicos.

  • Proteger os ouvidos:

A melhor maneira de proteger os ouvidos contra água ou produtos irritantes na hora do banho é o uso de chumaços de algodão em cada ouvido.

  • Banhos com água fria ou água quente:

Sempre é recomendado evitar banhos com temperaturas extremas, muito quente ou muito fria. O ideal é dar banhos em temperatura “morna”.

  • Secagem após os banhos:

O primeiro passo é retirar a umidade presente no pelo e no subpelo, sendo recomendado utilizar de uma a duas toalhas. Depois, é importante finalizar a secagem com um secador ou soprador.

  • Momento para descobrir problemas:

O banho é o momento ideal para inspecionar seu animal, podendo identificar facilmente possíveis problemas em sua pele ou pelos, até mesmo a presença de ectoparasitas, como pulgas e carrapatos.



10. Por que a dermatologia veterinária e a alergologia andam juntas?


Dermatologia Veterinária é uma especialidade que se ocupa do diagnóstico e tratamento clínico das doenças que acometem o maior órgão dos nossos animais, a pele.

Alergologia Veterinária (ou Imunoalergologia) é a especialidade que visa o diagnóstico e o tratamento das doenças alérgicas. Nos cães e gatos o principal órgão alvo envolvido nas doenças alérgicas é a pele. Por conta disso, a alergologia veterinária é extremamente ligada a problemas dermatológicos, como as dermatopatias alérgicas.


11. Quais são os principais sintomas de cães com alergia à dieta consumida? Como proceder nesse caso?


Os principais sintomas em cães com hipersensibilidade alimentar é o eritema e o prurido cutâneo, além de quadros de otite externa inflamatória recorrente. Infecções cutâneas secundárias, por causas bacterianas ou fúngicas também são sinais clínicos comuns nos pacientes que sofrem de alergia alimentar.

A hipersensibilidade alimentar em cães é uma doença alérgica rara, que apresenta um difícil procedimento diagnóstico. Vale a pena ressaltar, que o diagnóstico definitivo é baseado na ausência dos sinais clínicos com a administração de uma dieta de eliminação com uma base proteica original, ou seja, com uma proteína única que o animal não tenha sido previamente exposto.


12. Os sintomas de dermatite alérgica à picadas de ectoparasitas são iguais aos sintomas da dermatite atópica e da hipersensibilidade alimentar? Como diferenciá-las?


Todas as dermatites alérgicas apresentam o mesmo sinal clínico, a inflamação (eritema cutâneo) e o prurido. O segredo para diferenciar as doenças alérgicas é um correto plano diagnóstico-terapêutico, além de uma minuciosa investigação, baseada no histórico e na anamnese dermatológica. Assim, podemos realizar a identificação e controle das causas, que normalmente se faz pela exclusão das doenças alérgicas mais comuns.


13. Como é feito o teste alérgico intradérmico e quando deve ser realizado nos cães alérgicos?


Na Dermatite atópica canina, o diagnóstico é baseado no histórico e na apresentação clínica da doença alérgica. Os testes alérgicos são utilizados para confirmar o diagnóstico clínico e permitir medidas adicionais de prevenção e tratamento, como por exemplo, a identificação e seleção de alérgenos candidatos para uma imunoterapia alérgeno-específica. O teste alérgico intradérmico consiste na aplicação por via intradérmica, de extratos alergênicos suspeitos, que podem gerar uma reação de hipersensibilidade imediata (rubor, pápula) aos alérgenos positivos.


14. A imunoterapia é uma nova aliada no controle das dermatopatias alérgicas. Como ela funciona?


A imunoterapia alérgeno-específica é a aplicação de alérgenos, devidamente identificados e selecionados pelos testes alérgicos, com o intuito de reduzir os sinais clínicos das doenças alérgicas. Na Medicina Veterinária, a imunoterapia alérgeno-especifica é indicada para o controle da Dermatite Atópica Canina, complementando assim, outras formas de tratamento. Diversos protocolos podem ser adotados, sendo consideradas algumas variáveis, como a via de administração, os veículos vacinais e os extratos alergênicos utilizados. O esquema clássico utiliza doses crescentes dos extratos alergênicos, por um tempo mínimo de 2 anos para obter uma adequada imunotolerância.



Mv. MSc. Raphael Rocha CRMV-RJ 10436

Dermatologia e Alergologia Veterinária

Site: http://www.dermatovetraphaelrocha.com



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